agosto 28, 2006

PRECIPÍCIO OU O HETERÓNIMO DESCONSTRUÍDO

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do precipício.
Sossegadamente, fitemos o horizonte e aprendamos
Que a vida passa, de olhos abertos ou não.
(Fechemos os olhos).

Fechemos os olhos e aprendamos que o passado,
Assim como o que agora é, e o que há de vir,
È escuridão, de olhos abertos ou não.
Esqueçamos tudo.

Abramos os olhos, pois tanto faz.
De olhos abertos ou não,
Todos os caminhos são escuros
Culminando aqui, em precipícios.

Sem rancores nem arrependimentos que a nada levam,
Sem olhares demasiado profundos sobre vagos
Horizontes de denso nevoeiro,
Olhemos para trás.

Cheguemos à conclusão que assim teria de ser,
Pensando que podíamos, se quiséssemos, fazer revoluções,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
À beira do precipício, onde tudo virá parar.

Pensemos também, que deste modo,
Superamos uma data de futilidades,
Chegando à frente de tudo e de todos,
Num abrir e fechar de olhos.

Ao menos, lembrar-nos-emos um do outro,
Sem que a nossa lembrança nos traga
Remorsos e feridas e depressões,
Porque nunca fizemos revoluções.

E juntos saltemos devagar para este mesmo precipício
Cumprindo assim a verdadeira missão
Para a qual fomos destinados. Fechar os olhos
E cair lentamente, sobre o pesado sono da decadência.

mário lisboa duarte


expressão visual por debrum

1 comentário:

Poesia Portuguesa disse...

O intróito de Ricardo Reis cai como uma luva neste poema...
Gostei do Blogue e da Poesia.

Um abraço ;)