setembro 22, 2006

HOMUNCULUS

Sinto em mim uma irresistível
Propensão para a Morte.
É difícil contrariar este meu desejo,
Trabalho ingrato ocultar sentimentos;
Só a luz do sol que dá a Vida
Me obriga a resistir.
Soldado incógnito em campo de batalha,
Por vezes dispo a Alma
Tentando que apenas fique a máquina,
Mas também essa se movimenta
Rumo a um abismo sem fundo,
Como que autómato programado
Para a destruição.
Assim fica a propensão
E eU, vou envelhecendo
(Vai-se-me enrugando a pele transparente,
Fina como copo de cristal lascado).
Sinto em mim uma irresistível
Propensão para uma Loucura.
E os raios de sol, da luz que dá a Vida,
Atravessam-me a mente
(Queimam por dentro estes raios de luz).
Por vezes tento distrair a Dor,
Mas é remar contra a corrente;
E assim vou acordando e adormecendo,
Segregando cada vez mais bílis negra.
Pele, cabelos, carne, gordura,
Choro, grito, tristeza, amargura;
E tudo o resto para um só buraco,
Que no fundo não passa
De mera vala comum.

mário lisboa duarte


expressão visual por Frederico Fonseca

4 comentários:

Anónimo disse...

A imagem está soberba!!!

Anónimo disse...

ha coisas que nao podemos contrariar...mas a vida é algo que esta acima de tudo!se nascemos algum proposito temos neste mundo...nem que seja algo menos grandioso mas somos alguem e seremos sempre alguem para os que nos querem bem...amigos/familia, quem quisermos entrará na nossa vida e lá permanecerá até poderá ser por pouco tempo mas teremos sempre impacto na vida de alguem seja pelo bem ou pelo mal...a vida é uma dádiva dos céus nunca penses em ti´ra-la assim do nada apenas porque tens problemas...todos nós temos, certo é que uns são mais graves que outros mas a benção de acordar todos os dias e de poder ver o belo nascer e pôr do sol...falar com as pessoas,sentir a sua companhia e ainda para mais poder estar no meio da natureza...nada melhor do que isso para nos tentar por de "auto-astral" e ver que a vida tem que ser sempre aproveitada!boa escrita!

Mário Lisboa Duarte disse...

"Não adormeças sobre pontes de ausência permanente,
Se pensas naquilo em que não sabes se penso,
Se olhas o meu mundo como pura utopia..."

P.S: A noção de equilíbrio cumprida na plenitude, faria de nós seres mais perfeitos. Pena que assim não o seja, daí a propensão. Tu detestas o mundo em que penso; eu detesto o mundo em que vives. Tão bom, tão bom que não deixa assinatura... Um mundo assim tão belo devia ser institucionalizado!
Beijos e obrigado por passares ainda que na sombra.

Villalobos disse...

To-morrow, and to-morrow, and to-morrow,
Creeps in this petty pace from day to day,
To the last syllable of recorded time;
And all our yesterdays have lighted fools
The way to dusty death. Out, out, brief candle!
Life's but a walking shadow; a poor player,
That struts and frets his hour upon the stage,
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.

Shakespeare, Mcbeth Act V