outubro 24, 2006

O MOMENTO


expressão visual por Frederico Fonseca

O momento etéreo
Aguarda adormecido
No seu sono leve.
Como o som do violino
Que quase silencioso,
Se escuta no fundo do mar.
Por entre melodias de dor,
As folhas dançam encantadas,
Como memórias do passado
Que nos sopram ao ouvido.
Deitado sob as ruínas do que nunca fui
Espero sonhando,
Segregando o suco venenoso
Que o tempo vai largando.
Deixando ao abandono os olhos
Da criança em mim defunta.

Mário Lisboa Duarte

7 comentários:

Anónimo disse...

Em mim vai morrendo mais do que uma criança e vai sendo aos poucos. Uma espécie de dores de crescimento aliadas ao músculo coração...Gostei do texto

Vida disse...

Pegar nas palavras, brincar com elas e construir poesia desta forma... como eu gostava de ser capaz, bem mas a realidade é outra, não nasci para isso por isso delicio-me a ler quem com este dom nasceu.

Parabéns.

Mário Lisboa Duarte disse...

Um dom será sempre uma defesa.
Uns encontram na arte essa defesa, perante tudo o que questionamos. Não é o caminho mais fácil. Digo-te:
Celebra a vida.
Talvez esse seja o maior dom. Ou a melhor defesa...


"Pois é, pois é
há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor, o que vai dizer
Segunda Feira"


Beijos cheios de vida, Vida.

Dinis Lapa disse...

e desta maneira o tempo apaga a memória. estamos de luto pela infância perdida.

Anónimo disse...

"O Tempo tem mais olhos que barriga"

Anónimo disse...

É um luto deveras assustador.
Por memórias de uma criança, de um passado que apenas se assemelha ao vivido. Essa criança nem sequer viveu. Ou melhor: viveu num qualquer presente-passado do sujeito poético.

icendul disse...

"Como memórias do passado
Que nos sopram ao ouvido."

os presentes de espera hão-de um dia ser digeridos pelo estômago do espírito.o futuro que nessa altura for presente, poderá trazer um momento mais tangível, acessível ao mero gesto de nos levantarmos do banco da paragem para apanhar o autocarro da sequência da vida.