setembro 17, 2006

PE(R)DIDO

Que me cuspam na cara sem piedade
Que me cortem as costas com chicotes
Que me crucifiquem no alto da cidade
Que me peguem fogo com archotes

Não se importem com a dor que o prego deixa
Quero a coroa bem apertada
Quero sentir o que mais aleija
Por saber que não vou já sentir nada

É que eu há muito que fui morto e enterrado,
Pelos versos que escreveu a minha mão.
Que me importa pois ser sacrificado?

Que me martirizem sem perdão!
Quanto ao sangue que deixar derramado,
Deixem-no bem coberto de chão!

mário lisboa duarte


expressão visual por Frederico Fonseca

3 comentários:

icendul disse...

o porvir é senhor de sentidos inauditos,insondáveis. por vezes, basta uma nova aparição de pele e espírito, resgatada num qualquer ângulo das vielas por onde circulamos, para que a execelência da sensação se reivente.

Dinis Lapa disse...

Jesus Christ, who are you? what will you sacrifice?

e tu?

Mário Lisboa Duarte disse...

E o Anjo do Senhor veio até mim, levantando-me do meio da pocilga. E puxou-me para bem alto, e cada vez mais alto. E levou-me para um campo amplo e, à medida que íamos descendo, Vi os gritos de dor que ascendiam do solo. Milhões de vozes num cântico de medo. E o terror apossou-se Desta pobre criatura. E Eu supliquei, “Anjo do Senhor, que gritos são estes que me atormentam?”, e o anjo respondeu “Estes são os gritos dos poetas atormentados pela dor da sua própria existência, os gritos daqueles que se foram desta vida para pior por não serem compreendidos, os que se fizeram mártires por uma causa que nunca foi a sua. Aquele ali assim, foi crucificado, pobre mártir, foi desde logo arrancado da cruz a fim de pregarem o próximo mártir. São os filhos de um deus menor que nunca por eles intercedeu”. E eu suava que nem um porco na Minha pocilga escorrendo tantas gotas de suor como as lágrimas dos inúmeros espectros que gemiam.”Escutem bem, pois eu vi a luz. A luz que VOS afastará de todo o tormento, a luz que VOS guiará rumo à salvação”, mas ninguém me parecia ouvir no meio de todos aqueles lamentos. “Que a paz do Senhor esteja convosco, agora e para sempre, Amen”.
Era já dia quando acordei e olhei para o céu. Pensava: “Se Deus é nosso pai, então Satanás deve ser nosso primo direito” e chorava por não poder partilhar este meu sentimento. Nunca tanto como nesse preciso momento desejei que certas crenças se concretizassem. Crenças num holocausto,marcado para breve, num total Apocalipse. Que sensação, essa de poder assistir ao último puxar de autoclismo da Mãe Natureza. E cometas a cair dos céus sem cessar, como bombas de napalm, seguido por uma chuva de meteoros e todo e qualquer tipo de merda que fizesse um grande buraco. Terramotos, maremotos, cidades perdidas, o Juízo Final e nós engolidos para sempre...

mário lisboa duarte, eu, tU eos OUTROS