outubro 16, 2006

ANESTESIA

Avanço por entre a multidão
Desalinhada
À procura de uma réstia de calma
Que me possa reconfortar
Como outrora
Nunca como agora
.Confusão.

Ecos de gritos lancinantes,
Carros que se arrastam pelas estradas,
Neons de mil e uma cores,
Becos estreitos sombrios
Olhares profundos e frios
De máscaras agitadas.
Gente que procura em vão,
Com as pernas já cansadas,
Algo que as alivie
Do cansaço e das dores,

Um qualquer anestésico pujante
Que as mantenha acordadas.

Mário Lisboa Duarte


expressão visual por Frederico Fonseca

4 comentários:

Dinis Lapa disse...

Claro que esse anestésico poderia ser esse grama de coca. Mas não é. É muito mais que isso. É aquilo que os filósofos afirmam ser a única coisa acima de Deus. É o Ser.

icendul disse...

ao contrário do vizinho de cima, não creio em nada que esteja acima de Deus e pelas vielas dessa consciência que me passeio qdo vem sofrimento à tona: é o sentimento de ser criatura ao colo de um pai maior que me traz a certeza da superação, do abrigo e da transitoriedade da angústia.já para não falar da certeza de um devir em ampliação e fortalecimento qdo a tempestade passa... ( )

Anónimo disse...

A anestesia que se busca é sempre encontrada e produzida por e em nós. Drogas (mais ou menos ditas leves), amores (mais ou menos profundos) enfim...tudo o que sirva para tapar o sol com a peneira ou a nossa capacidade de sentir com os nossos medos.
Assim...humanos somos.

Villalobos disse...

Ao contrário de um vizinho aí de cima, não acredito que deus esteja acima do que quer que seja. Os chineses, já lá vão praticamente 3000 anos, conceberam o cosmos como o Tau (ou o que se poderia chamar de uma força primordial) e a trindade Céus, Terra e Humanidade, encontrando-se esta na ligação entre o Céus e a Terra. Este não é um céu teológico, pois a "superação" de que se fala encontra-se neste mundo bem terreno. De qualquer forma, vou mais ao encontra da ideia da tânia, em que todos nos anestesiamos, de uma forma ou de outra: droga, álcool, televisão, ginásio, trabalho, quiça, até escrever. Onde é que se traça o limite? Difícil. Estas é a era das ânsias e dos medos.