setembro 10, 2006

NICODEMUS

Busco nas profundezas da alma
A criança que outrora fui,
O inocente acreditar
Que se perdeu para sempre.
Cedo me colocaram
Uma máscara de intelecto,
A passo longo e desenfreado
Fui renunciando à cegueira.
Agora,
Com palas nos olhos,
Vou por um caminho sombrio,
Procurando cais de embarque
Na ponta de um nó corredio.

mário lisboa duarte


expressão visual por Frederico Fonseca

6 comentários:

Dinis Lapa disse...

de luto pela infância perdida...tão romântico :)

Mário Lisboa Duarte disse...

"Começo por aqueles que morreram, e de alguns dos quais já me não lembro - os que jazem perdidos no passado remoto da minha infância quase esquecida.”

F. Pessoa
carta a Adolfo Casais Monteiro
1893

Mário Lisboa Duarte disse...

"Depois de amanhã vou esquecer um sonho"
"Sinto a Morte lenta e descanso.
Olho para trás para qualquer coisa;
move-se tranquilamente pelo tempo
enquanto aguardo pelos sonhos
que tive e vou tendo

Depois de amanhã vou esquecer um sonho
numa sacudidela como areia da praia

Há tempos fingi ser quem serei.
cheguei atrasado e confuso
a um agora falseado
como quem não sabe onde deixou a vida
quiçá tenha caído da algibeira
e voado com a areia

Não vês que a dor está na metafísica, meu amor?
Vem comigo e salta até voares
apanha um cometa como o Principezinho
que eu lá estarei
ao lado do sonho
que não é só um

Os sonhos apressam-se e apanham cometas
indeciso, fiquei em terra
sem traço, sem rumo
Passaram-se tempos e eu sem sonho
que se agarre a mim com toda a força
Sem o eu que sou, esse perdeu-se
nas viagens que fez a outros lados

Saio de casa como quem sai da cama
com o medo de perder o conforto que
ganho por não ter sonho sequer
e de na vida não viver mas existir

talvez a tua beleza seja um sonho,
porém este não se escolhe,
mas encolhe
como quando saio à rua
segurando a minha própria trela
que me aperta o pescoço com os lábios

Anda de bicicleta puto!
não vês que era lindo que fosse assim para sempre?
Entrega o cabelo aos ventos do tempo
para que se apaixone por ti e amoleça.
A mim não deram tamanho conselho
mas insistes em estar a horas para o jantar,
a insistência no presságio da memória

De soslaio contemplo-me há algum tempo atrás
era como tu, pequenito
charmoso, vitorioso!
confiava ser assim para sempre,
pequenito, como tu

vivi a pensar no pequeno eu e esqueci-me
e a vida vai-me à frente
mas não hei-de ficar imóvel."

Lucas Madrugada



p.s: Anda de bicicleta, puto... se ainda souberes o que é o equilíbrio...

Mário Lisboa Duarte disse...

Faço minhas as tuas palavras, meu caro Pixi-ninis-lapipi:-)

Mas sim, justificas o teu ponto de vista na demência vs. infância (fada engarrafada). Compreendo, aceito e aprecio.
A propósito: esquece os sorrisos e comporta-te como um homem!!!:-)

Dinis Lapa disse...

olhó gajo a citar-me. no outro dia tentei andar de bicicleta narso e caí.

Mário Lisboa Duarte disse...

és o verdadeiro narso-isista